Ciao a tutti! “Beber é algo emocional”, dizia o grande escritor Bukowski. E aqui temos que concordar que nossas descobertas culturais e emocionais sempre vieram acompanhadas de boas e novas bebidas. E por favor, não estamos falando de alcoolismo, mas sim de saborear uma boa bebida italiana em boa companhia, sempre.
Quando começamos a estudar sobre a Itália já pensando em nos mudar pra cá, descobrimos o Limoncello, famoso licor de limão. Descobrimos também sua receita, e curiosos fomos tentar fazer: primeiro, ficamos uma hora escolhendo limões sicilianos perfeitos com cascas perfeitas, o que não é muito fácil. Depois, pedimos meio litro de vodca emprestada para um de nossos pais que tem uma super dispensa com todas as bebidas imagináveis… e não bebe nenhuma. Imagine a cena: pai, me empresta meio litro de vodca? Bom, junte a isso quase 15 dias com aquele potinho de vodca escondido na dispensa, pegando o sabor das raspas de limão, mexendo uma vez por dia e torcendo para não sair só uma Smirnoff Ice dali. E finalmente, depois de misturar com o xarope de açúcar, esperar mais 15 dias e quando finalmente fica pronto, durar só uma semana na geladeira, porque fizemos pouco para experimentar mas acabou ficando delicioso. Que raiva! Lá se foi mais 1 mês para fazer outro. Nossa sorte que agora morando na Itália o preço do limoncello é ótimo e sempre temos uma garrafinha em casa e bebemos como digestivo depois de algumas refeições, como aprendemos a fazer com os italianos. E olha, funciona, viu! Italianos sabem das coisas quando o assunto é comer.
E falando em descobertas, pouco tempo depois quando finalmente nos mudamos para Bassano del Grappa (leia a matéria completa sobre Bassano aqui), cidadezinha linda do Vêneto, conhecemos a Grappa: a pinga italiana, obtida com o bagaço das uvas. Bassano é a criadora da grappa (pelo nome deu pra perceber) e são famosas na cidade duas fabricantes: a Poli e a Nardini, que ficam com seus museus um de frente ao outro no Centro Histórico da cidade, sem briga. Demoramos uns dois meses para criar coragem e entrar na Poli, não estávamos muito seguros do nosso nível de italiano, ainda tínhamos medo de pedir pão na padaria. Quando enfim criamos coragem descobrimos que no final do percurso do Museu tem uma lojinha. Amamos lojinhas! Foi amor a primeira vista. Eles deixam experimentar as bebidas e você tem que se controlar afinal ali não é open bar. Dessa primeira visita a Poli conhecemos a Moka, a grappa de café, variante da grappa pura, cremosa e saborosa. A grappa é uma bebida italiana famosa, servida para tirar o “bafinho” depois de tomar café e ajudar na digestão e no caso da Moka já se faz dois em um!
Quase três meses depois nos mudamos para Milão. A intenção sempre foi morar em Milão mas ficamos esse tempo em Bassano porque precisávamos de alguns documentos da cidade do Rodrigo, que é ali vizinha, então era mais fácil ficar por ali mesmo um tempo. Quem mora na Itália sabe como ela pode ser burocrática e vai entender essa decisão. E voltando a Milão é fácil também saber qual bebida italiana conhecemos, basta andar pelas ruas e ver todo mundo bebendo o Spritz (ele não é original de Milão e nem sua bebida mais tradicional, mas se bebe muito aqui). O Spritz é uma mistura de Aperol, vinho branco seco, fatias de laranja e gelo. Só que demoramos quase um ano para provar, não nos pergunte porque. Sempre bebíamos vinho e iamos deixando o tal spritz para depois. Chegou uma hora que uma obrigação saber que gosto tinha: todo mundo na cidade bebe isso, deve ser delicioso! Vamos provar!
Um amigo veio de Londres e fomos ao Navigli fazer o famoso aperitivo milanês. Na hora de escolher a bebida nosso amigo pergunta se é gostoso e a resposta é unanime: delicioso! Como assim você não conhece? (caras de pau). Não podíamos admitir nunca ter provado o spritz nesses dois anos! O medo começa quando a bebida chega na mesa: tomara que seja gostoso, tomara que seja gostoso, eu falei que era gostoso, fala que é gostoso. Olhamos um para o outro e claramente o pensamento era o mesmo. Nosso amigo prova e faz uma cara positiva. Nós, depois do sinal positivo bebemos um golinho olhando para a cara do outro, quase rindo… é uma delícia! Ufa!
Mentirinhas a parte, fomos visitar a cidade de Turim, não muito longe de Milão e descobrimos o Licor de gianduia, uma bebida italiana muito saborosa e cremosa. Um fato histórico que adoramos saber é que Napoleão Bonaparte proibiu o comércio entre os navios franceses e britânicos, onde a região de Piemonte que fica Turim (na época ela era de domínio francês) não recebia o cacau que vinha dos navios britânicos. A solução foi fazer uma mistura com pouco cacau, açúcar e avelãs, nascendo a gianduia. Obrigada Napoleão! E dela vem esse licor, saborosíssimo e cremoso. Em Turim na verdade, coma tudo que for de gianduia: gelato, bombons, bebidas, tudo! Eles são mestres nisso.
Viajando pela Itália sempre descobrimos coisas novas, e uma das primeiras coisas que descobrimos em uma viagem a Florença foi o vino sfuso. Passeando por aquela cidade que parece de mentira de tão linda, vimos uma pessoa entrando com uma garrafa vazia em uma lojinha cheia de frutas na porta e saindo com a garrafa cheia de vinho. Fomos lá para xeretar e acabamos descobrindo que eles vendem vinho “a granel”, o tal do vino sfuso. Você simplesmente entra na loja que vende (sempre tem escrito na porta) com sua própria garrafa de plástico ou vidro (de 1 a 5 litros) e pede para encher com o vinho a venda de sua escolha e pega por litro. Se você não tiver a primeira garrafa eles te vendem uma, sem problemas. São barris de vinho jovem do produtor local que não passaram pelo envelhecimento e não foram engarrafados ainda. É o famoso vinho da casa. Não são os melhores vinhos, claro, mas para o dia a dia é uma ótima opção, além de ajudar o produtor local. E falando em vinho, uma das coisas mais especiais na Itália é a paixão que os italianos tem pelo vinho, paixão que é contagiante! Aqui aprendemos a apreciar melhor cada vinho, já que encontramos tranquilamente alguns certificados de ótima qualidade por menos de dois euros, e aprendemos também a harmonizar melhor com cada refeição. Um dos melhores vinhos que encontramos foi conversando com um senhorzinho no mercado, quando ele nos pegou olhando em dúvida para a prateleira e puxou papo: “Olha, pega esse aqui ó (e colocou o vinho no nosso carrinho), ele é barato e ótimo porque combina com muitos pratos. Pega esse que vocês vão gostar. Eu bebo menos hoje em dia porque estou ficando velho (ele tinha uns 80 anos) e preciso diminuir um pouquinho o vinho a noite. Tem uns que são mais caros aqui e melhores, mas (e parou de falar olhando pra prateleira)… na verdade todos aqui são bons”. E riu. Italianos sabem o quão maravilhosos são seus vinhos e não podemos negar que eles tem completa razão. No fim pegamos a tal garrafa e abrimos na mesma noite. Pra variar, o simpático senhorzinho estava certo.
Muitos pratos aqui tem bebidas nos ingredientes: doces, carnes, e isso os deixa com um sabor incrível! Nada se compara a um risoto com um toque de vinho branco ou um creme de confeiteiro com algumas gotas de limoncello. Usadas com bom senso, as bebidas extraem o melhor de cada prato.
Um brinde as novas descobertas em cada cidade! Qual será a próxima bebida italiana que vamos descobrir? Até a próxima. Bacione!