Ciao a tutti! A poucos metros do Naviglio, andando pela Corso di Porta Ticinese, você passará em frente à igreja de Santo Eustórgio. E talvez sem perceber, estará passando por uma das mais lindas e importantes igrejas do mundo, isso porque o sarcófago de pedra que guardava o corpo dos três Reis Magos está ali!
Ninguém sabe exatamente se eles realmente existiram ou onde eles morreram: algumas lendas dizem na Pérsia, outras em Jerusalém depois que Jesus foi crucificado, outras no Monte Sabalan, no atual Azerbaijão, onde haviam consagrado uma capela dedicada a Jesus e se encontravam ali todos os anos. Mas a única coisa certa é que foi Santa Helena, mãe do imperador Constantino, a encontrar seus restos mortais e os levou a Constantinopla.
Sendo assim, Eustórgio, nomeado bispo de Milão na época, foi a Constantinopla para receber a confirmação dessa nomeação e, na ocasião, recebeu também um grande sarcófago como presente do imperador, que continha as relíquias dos Reis Magos. Naquela época, não era tão fácil assim transportar mercadorias, especialmente preciosas, como as relíquias. Bois foram usados para rebocar o sarcófago até a catedral de Santa Tecla (que deu lugar ao Duomo), porém em um certo ponto da jornada, os animais cansaram e não queriam mais continuar: Eustórgio entende que aquele era um sinal do lugar onde os Magos deveriam ser ficar e desistiu da ideia de transportá-los para a catedral. Neste mesmo local, foi construída a igreja de Santo Eustórgio, por volta do ano 340 e nela uma pedra esculpida ainda se lembra do episódio.
As relíquias permaneceram na igreja Santo Eustórgio até 1162, quando Milão foi saqueada por Federico Barbarossa: seu espólio de guerra, incluindo as relíquias, foram entregues a Rainald de Dassel, arcebispo de Colônia na Alemanha, que as transferiu para a catedral da cidade, onde ainda estão guardados no Dreikönigenschrein, a Arca dos Três Reis Magos, o maior sarcófago da Europa, feita de prata dourada, com mais de um metro e meio de altura, dois metros de comprimento e trezentos quilos de peso. Milão ficou apenas com uma medalha que segundo a tradição, foi feita com parte do ouro doado pelos Reis Magos ao Menino Jesus. E a cada Epifania (no dia 06 de janeiro), a medalha é exibida ao lado do grande sarcófago de pedra deixado vazio que ainda se encontra na Capela dos Reis Magos, localizada na basílica de Santo Eustórgio em Milão.
Porém, finalmente em 1904, o cardeal Andrea Carlo Ferrari, arcebispo de Milão, consegue recuperar uma pequena parte das relíquias: dois perônios, uma tíbia e uma vértebra, que hoje são mantidas em uma urna de bronze na Capela dos Reis Magos, visível ao público. Além disso, existem outras relíquias aqui na Lombardia: três falanges mantidas na paróquia de Santo Ambrósio em Brugherio (Província de Monza e Brianza) e exibidas, assim como a medalha de ouro em Milão, no dia da Epifania de cada ano. Essas relíquias, chamadas “degli Umitt” (ou “homens pequenos”, devido ao tamanho pequeno do relicário), teriam sido doadas por Santo Ambrósio a sua irmã Santa Marcelina antes do roubo de Barbarossa.
Mesmo que toda a relíquia não esteja mais em Milão, uma parte ainda está e além disso o sarcófago de pedra que sempre os abrigou por mais de mil anos até o furto e a medalha forjada com o ouro dito presenteado a Jesus estão na Basílica de Santo Eustórgio. A presença dos Magos, ou o que resta deles, também pode ser vista pelo fato de que na ponta da torre do sino de Santo Eustórgio, em vez de uma cruz, há uma estrela de oito pontas, símbolo do cometa que guiou os Reis Magos a Belém. Uma visita pra lá de importante e interessante em Milão, principalmente se for dia 06 de janeiro.